Em tempo de finados

(E a memória dos mortos…)

 

              Uma das datas mais lembradas e respeitadas pelos cristãos o 2 de novembro – Dia de Finados – era, em tempos remotos, conhecido por “dia de todas as almas”, após o “dia de todos os Santos” (1º de novembro).

              Um ritual que chegou aos dias de hoje para se meditar e rezar pelos mortos (e pelas suas almas), uma vez que, conforme a doutrina católica, a alma de muitos, ou a grande maioria, vai para o purgatório (para purificação), necessitando de orações para sua salvação e intercessão junto à Deus.

              E assim, vemos milhares de pessoas, a cada 2 de novembro, irem “visitar” seus mortos: parentes, familiares, conhecidos, amigos…

 

                A cruz mestre:

              A cruz, é um dos mais conhecidos símbolos religiosos do cristianismo. E, em todo cemitério há uma “cruz mestre”. Enquanto cada um vai ao túmulo de seus entes queridos, há aqueles que, não tendo como ir ao cemitério onde se encontram os seus, recorrem ao cemitério mais próximo e junto à cruz mestre, depositam flores e acendem velas.

 

                Na poesia:

                A literatura gaúcha, como não poderia deixar de ser, é pródiga em versar sobre o assunto, mostrando toda sua regionalidade. Como no exemplo abaixo, na poesia de Jayme Caetano Braun (parte dela)…

                            “Cemitério de campanha, / rebanho negro de cruzes,

                             onde à noite estranhas luzes / fogoneiam tristemente;

                            Até o próprio gado sente / no teu mistério profundo

                            que és um pedaço de mundo / noutro mundo diferente.

                            ………………………

                            Por isso quando me apeio / num cemitério campeiro

                            eu sempre rezo primeiro / junto à cruz sem inscrição,

                            …………………”.

 

              No folclore brasileiro e gaúcho encontramos inúmeras citações que falam das crendices, usos e costumes relacionados ao Dia de Finados. E um fato importante: o grande respeito pela data, conforme a poesia “Bolicho” de Apparício da Silva Rillo…

              “Paredes de pau-a-pique, / sete braças de comprido,

              chão de barro bem batido, / cobertura de capim.

              Garrafas nas prateleiras / se entreveram com chaleiras,

              peças de chita e de brim.

                            Bolicho de portas largas / que não respeita feriados,

                            que só fecha nos Finados / e no Dia da Paixão.

                            Bolicho que dá-se ao gosto / de nunca pagar imposto

                            pro Tesouro da Nação.

                                ……………..”.

 

                            Os cemitérios do mundo inteiro, vale lembrar, são fontes inesgotáveis de pesquisa e informações. Em cada sepultura, encontramos rastros de usos e costumes, tal qual vemos aqui, com histórias de vida e morte da gente do Rio Grande do Sul… a nossa terra!